A muito tempo vemos preconceitos e nada fazemos, e este tipo de intolerância faz também parte da nossa política você não acha.
É com muita tristeza e vergonha que este manifesto foi escrito por pessoas ligadas ao Movimento Punk paulista. E justamente por serem várias pessoas envolvidas, ele é anônimo.
Nos últimos meses, o Punk paulista foi surpreendido com o surgimento de um grupo visualmente punk, mas ideologicamente de extrema-direita. Algo inconcebível para nós, que sempre acreditamos na liberdade e no anarquismo. Mesmo os Punks apolíticos sempre prezaram a liberdade, estando próximos ideologicamente do anarquismo. Esse grupo é conhecido como street punk e é comuns em alguns países da Europa e Estados Unidos.
No velho continente, Street Punk reúne Punks anarquistas que se uniram a Skinheads também anarquistas ou comunistas (SHARP – Skinheads Against Racial Prejudice e RASH – Red. and Anarchist Skinheads) na luta contra o nazifascismo, homofobia, globalização entre outras lutas sociais. Em Sampa, também se uniram aos skinheads, só que os de extrema-direita.
No Brasil essa idéia chegou deturpada. O street punk tornou-se a válvula de escape de alguns integrantes do Movimento Punk que divergiam ideologicamente, estando mais próximos dos skinheads direitistas do que do anarquismo. Essas pessoas passaram anos em companhia de anarquistas, agindo como anarquistas, enquanto escondidos alimentavam o monstro da intolerância. Ao pregarem a união com skinheads, independente da linha ideológica acabou sendo banidos da cena Punk. Daí para uma união real com direitistas foi um passo.
Tanto para street comédias quanto para naziskins essa união foi positiva. Para os street, foi a forma de se defenderem de possíveis represálias (não necessariamente com o uso de violência) que sofreriam por parte dos anarquistas, devido ao fato de ostentarem o visual, de se definirem como “punks” e fazerem roles com naziskins ao invés de rasparem o cabelo, usarem suspensórios e suásticas e se assumirem como nazi-fascistas. Para os nazis, eram mão-de-obra para suas ações (em troca de uma pseudo-proteção, eles matam!) e fonte de informações sobre militantes anarquistas, algo extremamente valioso, já que essas pessoas viveram por algum tempo nessa cena e conheciam os integrantes pelos nomes, seus endereços etc.
vício punk, vingança punk, devastação punk são as gangues mais conhecidas. Mantêm relações com carecas do abc, carecas do Brasil e até com o White Power. Para uma pessoa que está na balada na região da Consolação/Augusta e encontra com a gangue, é tarefa quase impossível saber quem é street e quem é Punk. Só se estiverem em companhia de naziskins para identificar, porque visualmente até para nós é difícil. O mesmo vale para identificar naziskins e Skinheads anarquistas, já que visualmente também são idênticos, sendo que um grupo usa símbolos nazistas e os outros anarquistas ou comunistas.
Isso é um resumo do resumo. É só uma pequena tentativa de resposta (e esclarecimento) ao que anda sendo dito por aí.O Movimento Punk não tem nada a ver com essa onda de crimes de intolerância. Violência gratuita nunca fez parte do discurso punk, usamos a violência somente quando necessário e quase sempre para defesa. Se em diversas ocasiões somos violentos é porque não oferecemos a outra face. Continuamos libertários (sempre!), engajados na luta pela reforma agrária, contra a homofobia (alguém aí se lembra da primeira Parada do Orgulho Gay?), contra o racismo, pela igualdade entre os sexos, na luta pró-moradia no Centro e em diversas outras, incluindo o combate ao nazifascismo.
Não sabemos ao certo o que fazer nesse caso, porque simplesmente nunca achamos que passaríamos por isso. Nunca acreditamos que o inimigo estivesse ao nosso lado, no mesmo role, dividindo a cerveja, a conversa ou agitando na roda durante a apresentação de uma banda qualquer. Mas estamos tentando, e esse manifesto é uma pequena parte dessa luta que se inicia.
Contamos com a compreensão de todos.
Saúde, paz e anarquia.
Era!!! Abraços doido.
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